Trump, Bolsonaro e o Mundo
M. Cordeiro
No mundo hoje cada vez mais as pessoas pensam no seu próprio umbigo. Primeiro o meu umbigo, depois os meus pés, depois o meu caminho, a minha casa, a minha família, a minha realidade e o meu país. Pouco tempo resta para ter uma opinião sobre o mundo, ou mesmo sequer conhecer o que se passa no mundo.
“O outro quer la construir uma parede ou lá o que é!” é o máximo que conseguimos ouvir hoje e reparem, este comentário já vem de uma pessoa minimamente preocupada com a actualidade.
Tive alguns amigos na escola que me deram desde cedo esta ideia de que estamos a caminhar para um profundo vazio moral. Eu tenho 28 anos e não nasci em ditadura, nem passei nenhuma guerra, não sou retornado, nem refugiada, mas o certo é que me preocupo em conhecer o passado, pois sem ele dificilmente seremos capazes de construir um futuro melhor. Ora na escola (incluindo na universidade) muitas vezes fui confrontada com a expressão “mas saber isso tudo serve pra quê?”, “A mim interessa-me é ter conhecimentos sobre a minha profissão os políticos que estudem politica”, ou ainda, e até mais revoltante, “Votar?! Mas isso não muda nada!”.
O facto é que nessa altura eu quis apenas pensar que não me estava a relacionar com as pessoas certas, ou que simplesmente elas mudariam de opinião através das minhas oratórias sobre holocausto, fascismo e estalinismo… mas iludi-me. A verdade é que o reflexo da maioria estava nos comentários dos meus colegas mais próximos e eu não quis ver e reduzi o vasto problema à ignorância de alguns.
Hoje não sei onde param essas pessoas, mas tenho quase certeza de que continuam a não votar e a ser aquela maioria que protesta por tudo e por nada mas não mexem um dedo para mudarem aquilo de que não gostam.
O voto é um acto livre, mas muitos esquecem aqueles que por essa liberdade lutaram, sofreram e daqueles que por ela perderam a vida.
Mas olhar apenas o próprio umbigo também leva a que hoje falemos de Trump e de Bolsonaro como realidades no panorama político actual. Já para não falar de um sistema politico que elege Alexandre Frota esse “grande pilar” da pornografia… ah não espera que agora é DePUTAdo Federal… Mas onde é que o mundo vai parar?!
A democracia permite que qualquer cidadão expresse a sua opção política e por isso não estou aqui para criticar as escolhas de cada um, mas mais bem quero deixar claro aquilo que referi antes: Falta aulas de história nas escolas.
A direita extremista está a ganhar cada vez mais pontos no panorama actual, mas cuidado para quem pensa que é apenas do outro lado do Atlantico. A Europa extremista direita tem ganho cada vez mais adeptos. E eu gosto aqui da palavra adeptos, porque sinceramente assim como o futebol acho que os extremismos não têm apoiantes mas adeptos. Ferrenhos seres humanos, capazes das maiores atrocidades para fazerem valer a sua voz. Eu escrevo post’s, eles fazem suásticas (se não sabem o que é… Atenção a essas aulas de história!) no corpo dos apoiantes de outros partidos.
Eu continuo abismada e capaz de me surpreender a cada dia com as afirmações que leio por aí, porque no fundo cada uma é melhor que a outra, e cada uma mostra mais o sem sentido total em que vivemos.
Passemos da história, que parece que é chato ir ler, para umas aulas básicas de léxico da língua portuguesa. Racismo, Misoginia, Preconceito, Radicalismo parece-me a mim que poderiam pertencer todas à família lexical da Intolerância.
Eu não vou citar aqui a quantidade de barrabazadas que Trump, ou Bolsonaro dizem a cada dia, já disseram, já prometeram e estou certa que vão cumprir. Entendo que o estado do Brasil é tão calamitoso que a população precisa-se de uma mudança. Mas vamos lá ver claramente as coisas, havia 13 candidatos, vão-me dizer que não havia melhor que este senhor que como imagem de marca tem o símbolo da pistola feita com as mãos?!
Não me venham para aqui defender o fascismo, ou a ditadura militar, vastamente defendida por este senhor, pois eu sei que para vocês o Brasil está longe, mas a intolerância está aqui, no nosso grupo de amigos, no nosso trabalho, no nosso dia-a-dia e isso é assustador.
Tu fazes alguma coisa para mudá-lo?! Eu pelo menos tento, continuando com as minhas oratórias, dando algumas aulas de história clandestinas, não tendo medo de escrever estes post’s.
Talvez não mude nada, o mais certo é que não o consiga. Mas se hoje vos consegui fazer ir ver o significado de algumas palavras que escrevi, então já ganhei o dia.